segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sutra de Lótus - Capítulo 1 - Introdução (parte1)

Olá caros leitores, compartilho com vocês a primeira parte do primeiro capítulo do Sutra de Lótus, que eu venho traduzindo para o português. Quem quiser usar esse texto para qualquer finalidade, fique a vontade, só peço que coloque o endereço do blog nos créditos! 

Enjoy it! 




Assim eu ouvi...
O Buda morava no monte Grdhrakuta (Pico do Abutre), perto da cidade da Casa dos Reis, junto com um grupo de Bhikshus (monges), doze mil ao todo. Todos eram Arhats (seguidores mais importantes) que haviam esgotado todos os escoamentos e não possuíam mais aflições.
Naquela ocasião, O Bem- Aventurado estava cercado pela Quádrupla Assembleia, presenteado com oferendas, honrado, venerado e rezado pelo bem dos Bodhisattvas (quem está em direção à iluminação).Ele expos um Sutra chamado Os Princípios Ilimitados, um Dharma para instruir os Bodhisattvas, os quais o Buda protege e é atento.
Depois que o Buda exprimiu esse Sutra, ele sentou-se na posição de lótus e entrou em Samadhi da Estação Emissora dos Princípios Ilimitados, com o corpo e a mente imóveis.
Naquela ocasião, uma chuva de flores de Mandarava, Mahamandarava, Manjushaka e Mahamanjushaka caíram do céu, as quais se dispersaram sobre o Buda e por toda a grande assembleia.
Todos os universos do Buda tremeram de seis formas diferentes.
Naquele dia, toda a grande assembleia de monges, e todos os outros seres alcançaram o que eles nunca haviam tido antes. Todos se encheram de contentamento e juntaram as palmas das mãos e, com um só coração, contemplaram o Buda.
Então o Buda emitiu de entre as sobrancelhas uma luz branca que iluminou dezoito mil mundos ao leste, omitindo nenhum deles, alcançando abaixo o inferno de Avichi e acima o céu de Akanishtha. A partir desse mundo foram vistos todos os seres vivos nos seis destinos, naquelas terras distantes, foram vistos todos os Budas presentes, todos os Sutras e o Dharma ensinado pelos Budas foram ouvidos.
Então o Bodhisattva Maitreya pensou: “Agora, o Honrado Pelo Mundo manifestou sinais de transformações espirituais. Qual a razão para esses presságios? Agora o Buda, o Honrado Pelo Mundo, entrou em Samadhi, embora esses sejam eventos raros e inconcebíveis. A quem devo perguntar em relação a eles? Quem poderia responder?”
Ele ainda pensou: "No passado, o Príncipe do Dharma, Manjushri, tinha se aproximado e feito oferendas aos Budas. Certamente, ele tem sido esses raros sinais. Eu agora devo perguntar a ele.”
Todos possuíam o mesmo pensamento: “Quem deveria ser questionado em relação à luz brilhante e aos sinais de penetração espiritual do Buda?”
Então, o Bodhisattva Maitreya desejando acabar com as suas próprias dúvidas, e os pensamentos da Quádrupla Assembleia, dos Bhikshus, das Bhikshunis e assim como os dos demais seres, questionou Manjushri como segue:
“Quais as razões para esses presságios, estes sinais de penetração espiritual, para a emanação dessa grande luz que ilumina dezoito mil mundos ao leste, de modo que os adornos em todos aqueles mundos de Buda são completamente vistos?”
Em seguida, o Bodhisattva Maitreya, desejando reafirmar o seu significado, falou versos perguntando:
 
"Manjushri, qual é a razão
Para a orientadora emanação do Mestre
Essa grande luz entre suas sobrancelhas
Que ilumina toda parte
e essa chuva de Mandaravas
e flores de Manjushaka,
a brisa perfumada de Chandana que
encanta o coração daqueles reunidos?
Através dessas causas e condições,
a terra está toda adornada e pura,
e dentro desse mundo, a terra
se estremece em seis modos diferentes.
Em seguida, a Quádrupla Assembleia
alegra-se por completo;
com o corpo e mente em deleite,
eles obtêm o que nunca tinham tido.

A luz brilhante vinda do meio das sobrancelhas
brilha no quadrante leste,
causando dezoito mil terras
para todas se tornarem de cor dourada
E do inferno de Avichi,
para cima, para o pico do ser,
dentro de cada um dos mundos são vistos
os seres nos seis caminhos,
seus destinos em nascimento e morte,
suas condições cármicas, bem ou mal,
suas retribuições, favoráveis ou más -
tudo isso é visto, aqui.

São vistos todos os Budas,
os leões, e os mestres sabiamente,
expondo sobre as escrituras do Sutra,
momento de sutileza e maravilhas.
Limpo e puro é o som
de suas suaves, complacente vozes,
ensinando para todos os Bodhisattvas,
numerosos, nas incontáveis casas dos milhões.
O som de Brahma, profundo e maravilhoso,
preenche aqueles que ouvem com alegria
como, dentro de seu mundo, cada um proclamasse o Dharma correto.
Através de várias causas e condições,
e de analogias ilimitadas,
eles clarificam o Dharma de Buda
para iluminar os seres vivos.

Para aqueles que já encontraram sofrimento,
cansado de doenças, envelhecimento, morte,
eles falam sobre o Nirvana,
o que traz fim à todos os sofrimentos.
Para os possuidores de bênçãos, os quais
fizeram oferendas aos Budas passados e
resolveram procurar o Dharma superior
eles falam sobre Iluminação e condições.
Para aqueles que são filhos de Buda,
os quais cultivam diversas práticas,
procurando a sabedoria insuperável,
eles falam sobre o caminho da pureza.

Manjushri, enquanto habito esse lugar,
eu vejo e ouço coisas como essas,
alcançando um milhar de milhão de coisas;
tal multiplicidade delas
eu devo explicar agora sucintamente.

Eu vejo outras terras,
Bodhisattvas como as areias do Ganges,
através de várias causas e condições
procurando o Caminho do Buda.

Talvez eles pratiquem como se presenteassem
com prata, ouro e coral de verdadeiras pérolas,
e de mani, madrepérola, carneliana,
de vajra (diamante) e outras pedras preciosas,
com serviçais e carruagens,
e palanquins cravados de joias.
Isto eles oferecem com alegria,
em dedicação ao Caminho do Buda,
jurando obter o Veículo Principal
no reino triplo,
o qual cada um dos Budas enaltece.
Há Bodhisattvas que dão carruagens
tracionadas por quatro cavalos,
com trilhos e toldos floridos,
ricamente ornamentadas.
Mais uma vez são vistos Bodhisattvas
que dão a sua carne, mãos e pés,
que até mesmo dão suas esposas e filhos,
buscando o Caminho máximo.
Novamente são vistos Bodhisattvas
cujas cabeças, olhos e corpos inteiros
são oferecidos com a maior alegria,
em busca da sabedoria do Buda.

Manjushri,
Eu vejo monarcas reais que
visitando os tribunais dos Budas
perguntam sobre o Caminho máximo,
e, em seguida, abandonam suas terras agradáveis,
palácios, ministros, concubinas,
e, cortando suas barbas e cabelos,
se vestem com as túnicas do Dharma.

São vistos Bodhisattvas que
tornando-se monges, residem sozinhos
junto à natureza, na quietude,
recitando os Sutras com alegria.

Mais uma vez são vistos Bodhisattvas,
lutando com determinação heroica,
entrando nas profundezas das montanhas,
para refletir sobre o Caminho do Buda.

Vistos, também, são aqueles que já abandonaram o desejo,
que habitam na solidão constante,
profundamente cultivando o Dhyana Samadhi
e atingindo as cinco penetrações espirituais.
Mais uma vez são vistos Bodhisattvas
na paz de Dhyana, com as palmas unidas,
que, com dez mil linhas,
cantam os louvores dos reis do Dharma.


Mais uma vez são vistos Bodhisattvas,
de sabedoria profunda e sólida vontade,
capazes de questionar os Budas e
aceitar e dominar tudo o que ouviram.

Outros discípulos de Buda são vistos,
com sabedoria e Samadhi perfeito,
que, com analogias ilimitadas,
pregam o Dharma para as multidões.
Alegremente eles pregam o Dharma,
transformando todos os Bodhisattvas,
derrotando, assim, as tropas de Mara,
e fazendo ressoar o tambor do Dharma.

Também são vistos Bodhisattvas
em silêncio e tranquilidade;
embora adorados pelos deuses e dragões,
eles não encontram nisso, motivo de alegria.
Também são vistos Bodhisattvas
habitando em florestas, emitindo luzes,
aliviando aqueles que sofrem nos infernos,
e levando-os para o Caminho do Buda.

São vistos, também, os discípulos do Buda
os quais não dormiram, mas andam à vontade,
dentro da floresta e bosques, pois eles procuram
com diligência o Caminho do Buda.

Também são vistos aqueles que possuem preceitos perfeitos e
intactos, com forma inspiradora,
e puros como pérolas preciosas,
com as quais eles buscam o Caminho do Buda.

Também são vistos os discípulos do Buda
perseverando na força da paciência;
ainda que por aqueles de arrogância orgulhosa,
maliciosamente repreendidos e espancados,
eles são capazes de suportar tudo isso,
buscando o Caminho do Buda.

Mais uma vez são vistos Bodhisattvas,
independente de todas as frivolidades,
e de seguidores estúpidos,
aproximam-se com sabedoria.
Resolutos, expulsando a confusão,
recolhendo os seus pensamentos nas florestas montanhosas,
por dezenas de milhares de milhões de anos
em busca do Caminho do Buda.

Bodhisattvas são vistos,
que, com boa comida e bebida, e com
uma centena de tipos de caldos e ervas,
fazem oferendas ao Buda e a Comunidade dos Discípulos.


Quem, com vestes finas e vestuário superior,
de valor na casa dos milhões,
ou com vestes valiosas,
fazem oferendas ao Buda e a Comunidade de Discípulos.
Quem, com um milhão de tipos diferentes
de habitações feitas de preciosos sândalos
e com ótimos dormitórios,
fazem oferendas ao Buda e a Comunidade de Discípulos.
Quem, com jardins e bosques, limpos e puros,
com flores e frutos em abundância,
com nascentes e lagos de banho,
fazem oferendas ao Buda e a Comunidade de Discípulos.
Ofertas como essas,
de muitas variedades, extremamente finas,
eles dão com alegria incansável,
buscando o Caminho Máximo.

Há Bodhisattvas que
falam do Dharma da extinção
com várias instruções, ensinando
seres vivos, incontavelmente.
São vistos Bodhisattvas que
contemplam todos os Dharmas da natureza
ausentes da distinção da dualidade,
como o espaço vazio.
Também são vistos discípulos do Buda
cujas mentes não têm apegos e
que usam esta sabedoria maravilhosa,
buscando a Caminho Máximo.

Manjushri,
Novamente, existem Bodhisattvas que,
após os Budas entrarem em extinção,
fazem oferendas aos Shariras (corpos).
Mais uma vez são vistos discípulos do Buddha,
construindo estupas, construindo templos,
incontáveis como as areias do Ganges,
para enfeitar os reinos e terras.
Os estupas enfeitados com joias, altos e finos,
possuem cinco mil yojanas de altura,
dois mil yojanas de largura.
Cada estupa e templo é decorado
com milhares de cortinas e bandeiras,
circulando ao seu redor, e feitos com pedras preciosas,
e sinos enfeitados que harmoniosamente badalam.


Todos os deuses, dragões e espíritos,
seres humanos e não humanos,
com incensos, flores e instrumentos musicais,
constantemente fazem oferendas.
Manjushri,
Todos os discípulos dos Budas,
adornam as estupas e os santuários
fazendo oferenda aos Shariras;
espontaneamente, os reinos e terras
estão soberbamente formosos e requintados,
como o rei das árvores celestes
quando suas flores florescem.

O Buda emite adiante esse único raio,
e eu e aqueles reunidos aqui
avistamos dentro desses reinos e terras,
as diversas maravilhas especiais.
O poder espiritual dos Budas
e sua sabedoria são as mais raras,
emitindo uma luz, única e pura,
Eles podem iluminar terras ilimitadas.
Vendo isto, todos nós
obtemos o que nunca tivemos.
O Discípulo do Buda, Manju,
ora e soluciona as dúvidas da assembleia.

A Quádrupla Assembleia, com alegria
olha para você, humano, e para mim.
Por que o Honrado pelo Mundo
emitiu uma luz tão brilhante?
Discípulo do Buda, responda agora;
resolva nossas dúvidas, para que possamos nos alegrar.
Qual benefício é para ser adquirido
ao colocar adiante essa luz brilhante?
Aquele maravilhoso Dharma o Buda ganhou
conforme ele se sentou no campo do Caminho -
Será que ele deseja, agora, pregá-lo?
ou será que ele dará previsões?
As manifestações das terras do Buda,
adornadas com muitas joias, e puras,
bem como a visão dos Budas
não sinalizam condições de pequeno porte.
Manju, isso deve ser conhecido,
as quatro assembleias, dragões e espíritos,
olham para você, humano, esperançosamente;
o que é isso, para a ser dito?


sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Sutra de Lótus

O Sutra de Lótus é com certeza um dos mais importantes dentre todos os Sutras. Ou até mesmo, o mais importante, e essa afirmação toma sustentação nas próprias palavras do Buda, que falou: “Dentre os sutras, Este é o Rei soberano”.
Mas o que é um Sutra?

No budismo, Sutra, que em sânscrito significa discussão, não considerando o aspecto negativo da palavra, foi o nome dado originalmente apenas para os sermões do Buda histórico. Esses sutras foram recitados da memória de Ananda, discípulo do Buda no Primeiro Concílio Budista. Alguns outros Sutras foram escritos alguns séculos após a morte do Buda.

O Sutra de Lótus se apresenta como um discurso proferido pelo Buda a respeito do fim de sua vida. Ele é dividido em 28 capítulos, dos quais o Capítulo 16 é especialmente importante por trazer Sakyamuni como a personificação da vida eterna, e como tendo atingido a iluminação em um passado inconcebivelmente remoto.

Existem basicamente sete parábolas no Sutra, como: os três carros e a casa em chamas, o homem rico e seu filho pobre, os três tipos de ervas medicinais e os dois tipos de árvores, a cidade fantasma e a terra do tesouro, etc. Muitas vezes encontramos referências ao sétimo paramita ou a perfeição de um Bodhisattva.

Este Sutra, conhecido por sua extensa instrução sobre o conceito e o uso dos meios hábeis - (em sânscrito: upaya e em japonês: Hoben), introduz a ideia de que o Buda é uma entidade eterna, que atingiu o nirvana eras atrás, mas voluntariamente optou por permanecer no ciclo de nascimentos e mortes, a roda do samsara, para ajudar a ensinar aos seres o  Dharma. Ele se revela como o "pai deste mundo", de todos os seres e evidencia o carinho de um pai tão justo. Além disso, o Sutra indica que mesmo após o Parinirvana (morte física aparente) de um Buda, Ele continua a ser real e capaz de se comunicar com o mundo.

A ideia de que a morte física de um Buda é o fim deste Buda, é graficamente refutada pelo desenvolvimento e do significado da Escritura, no momento em que outro Buda, que existiu muito tempo antes, aparece e se comunica com Sakyamuni. Na visão do Sutra de Lótus, em última análise, os Budas são imortais.

O Sutra de Lótus é um trabalho de grande mérito literário, por conter essas muitas seções de versos e parábolas. Além disso, ele traz o conceito budista mais profundo do Veículo Único, ou seja, sobre a Natureza de Buda que todos nós podemos alcançar, e isso teve uma influência imensurável sobre o desenvolvimento do Budismo Mahayana. O Sutra é o texto principal da Escola Tien Tai no budismo chinês, e da Escola Nichiren no budismo japonês.

Muitas pessoas recitam esse Sutra e nem fazem ideia do que estão recitando, apesar disso não diminuir sua eficácia, porém, seria ótimo se todos conhecessem o ensino que há por trás do Sutra, não somente dos capítulos Hoben e Juryo, mas de todo o Sutra.
Por todos esses motivos, eu vou publicar aqui nesse blog todos os capítulos do Sutra de Lótus em português, traduzidos por mim, o trabalho será grande, mas gratificante.

Acompanhem aqui!!