sexta-feira, 15 de abril de 2011

Perguntas e respostas.


“Como surgiram o universo e os seres? Quando será o fim do mundo? Existe vida após a morte? Para onde vai a nossa alma? ...”

São perguntas que constantemente ouvimos e quase sempre geram polêmica, por mexerem com a fé individual, crenças ou até mesmo a descrença. Ao longo dos séculos essas perguntas foram repetidas, perseguidas e respondidas em exaustão, de diversas maneiras diferentes, porém, surgiram pelos mesmos motivos, ou seja, devido às necessidades de salvação por aqueles que tentam encontrar suas respostas. Não há erro em procurar respostas, o grande problema está em perder-se nesse caminho. Aproveitando uma frase que eu escrevi no post anterior, onde eu disse que “a religião tende muitas vezes a querer responder essas grandes questões (da existência da humanidade)”, darei continuidade a essa linha de raciocínio.

Sim, até os dias atuais essa é uma das características das religiões, mas a sociedade moderna vem gradativamente jogando essa responsabilidade para a ciência, graças aos progressos tecnológicos das últimas décadas, porém, muitas vezes, nem a ciência atual com toda a tecnologia e métodos consegue respondê-las, e não admitindo esses fracassos, os homens criam diversas “teorias”, baseadas em situações hipotéticas.

Mas há uma diferença entre ambas, a ciência não busca o céu, e a religião o faz, apegando-se a personalidade, buscando no céu os prazeres da personalidade. Agindo dessa forma, jamais será encontrado o que tanto procuram. Toda preocupação com a personalidade e com todas as atribulações que a afetam, são em vão, pois são passageiras, e se desvanecem quando encontramos a Verdade, pois a personalidade é impermanente.

Mas o budismo, responde essas questões?

Sim, muitas dessas perguntas foram respondidas diretamente ou através de parábolas pelo próprio Buda, mas nem de longe elas são a preocupação central ou o foco da Doutrina, como deixei claro também no último post, e também não serão a minha.

Buda pregava que uma vez adquirida à consciência, o ser jamais a perderia, jamais retrocederia na caminhada da evolução, ou seja, um homem não renasceria mais como animal, vegetal ou mineral. Baseando-se nisso, um amigo, ainda preocupado em sanar todas as preocupações de sua personalidade, me perguntou:

“Se nós podemos admitir que a consciência do homem possa vir a evoluir mais, assim como ocorreu com os nossos antepassados primitivos mais recentes, isso significaria que nós não somos os últimos habitantes desse planeta, muito menos o estágio final da evolução da consciência. Como ficaria a doutrina budista, já que essa é baseada na mente humana?”

Veja como é possível alguém se preocupar tanto com fatos futuros, surrealistas, que estão muito além do nosso alcance, que nem sabemos se acontecerão ou não. E nessa introspecção, a pessoa, alimentando sua personalidade, vive o futuro, esquecendo completamente o presente, o momento com o qual nós realmente temos forças para mudar, tentando encontrar a felicidade através das respostas para todas as dúvidas e medos que afligem e inquietam sua personalidade, entretanto, aquele que assim age e vive, dominado pela ilusão da personalidade, confundindo mente e corpo com o eu, jamais irá encontrá-la, pois assim como um homem que nunca está satisfeito com o bem que acabou de adquirir, sempre pensando em qual será o próximo, assim aquele morrerá antes de encontrar todas as respostas do universo que satisfaçam suas dúvidas existenciais.

De uma coisa nós já sabemos, a evolução da consciência humana e sua capacidade de realização, junto de toda a revolução tecnológica que estas trouxeram, não acompanham o caminho espiritual, pelo contrário, andam em sua contramão.

Desde quando a evolução da inteligência humana, fez com que o homem abandonasse seus instintos mais primitivos? Ou abandonasse seus desejos e crimes? Ambição? Ira? Orgulho? Desde quando ela trouxe felicidade? Paz? Liberdade?

Porém, uma coisa é certa, se todos os seres evoluíssem ao ponto de procederem de uma forma que não lhes trouxessem males e sofrimentos, longe das más ações, realizando sua revolução humana e por consequência o Kossen-Rufu, então o Buda atingiria a sua meta em plenitude.

Para aqueles que não compreenderam o intuito desse post, deixo aqui uma história:

Certa ocasião, Buda estava no bosque de Jeta, junto à cidade de Saravasti. Um monge, de nome Malunkya, aproximou-se com ar preocupado. Ele se afligia com o fato do Buda jamais responder às seguintes questões, bastantes discutidas na época:

 - O mundo é finito ou infinito?

- Corpo e espírito são uma coisa só ou duas coisas separadas?

- Existe vida depois da morte?

Malunkya, que gostava de filosofia, estava bastante aborrecido por Buda não tratar dessas questões e disse-lhe então:

- Ó Perfeito! Se não responderes às minhas dúvidas, deixarei a comunidade e voltarei a vida mundana.

Buda respondeu-lhe o seguinte:

- Malunkya: certa vez um homem foi ferido por uma flecha envenenada. Os amigos correram a buscar um médico, mas o ferido disse que só consentiria que lhe extraíssem a flecha e o tratassem depois de lhe explicarem quem a atirara, de que casta este pertencia, com que arco a flecha fora lançada, qual sua forma, etc. Que terá acontecido a ele? Certamente há de ter morrido antes de ver esclarecidas suas dúvidas. Da mesma forma, Malunkya, respostas a cerca do caráter finito ou infinito do universo, da natureza da alma, etc. não nos libertam do sofrimento. Precisamos libertar-nos do sofrimento nesta mesma vida. Por isso, não te preocupes com as questões que não ensino. Preocupa-te com as que ensino, que são: a Existência do Sofrimento, a Origem do Sofrimento, a Cessação do Sofrimento e o Caminho da Cessação do Sofrimento.

Perseguir tais questões, caro leitor, é como descobrir nesse momento que seu corpo utiliza 300 músculos para manter o equilíbrio quando você está parado em pé. Você já passou horas em pé ao longo de sua vida sem saber disso, e passará mais inúmeras horas, porém, agora, sabendo disso, e nada irá mudar. Isso não trará fim ao seu sofrimento e muito menos te libertará da roda da Samsara.

Paz a todos!

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